26/08/16

A polêmica do "uber" da hospedagem

A polêmica do "uber" da hospedagem

O expansivo universo de negócios que surgem ou são ameaçados pela internet e a popularização dos aplicativos tem um novo integrante: os hotéis. Hoteleiros e donos de pousadas da Serra Gaúcha, um dos principais destinos turísticos do Brasil, andam alarmados com o avanço do Airbnb —  site de compartilhamento de quartos e casas —  e da Booking, que também oferece espaço em residências particulares.

Os sites não revelam a quantidade de reservas que têm feito em Gramado ou Canela, mas, nos cálculos do Sindtur, o sindicato dos hoteis da Serra, o compartilhamento pela internet movimenta R$ 20 milhões em Gramado, 10% da receita do setor de hospedagem. Uma fatia que tem crescido nos últimos anos, garante o presidente, Fernando Boscardin.

—  Os hotéis ganharam um concorrente desigual, que se propõe a oferecer o mesmo serviço, mas não paga impostos e nem gera emprego —  reclama.

Nos sites de aluguel de temporada, o proprietário coloca sua casa ou um quarto à disposição de turistas, e o portal recebe uma comissão quando o negócio é fechado. Não há tempo mínimo para a estadia —  pode ser um dia ou um mês. O viajante recebe uma chave, pode usar a cozinha e fica responsável pela arrumação do quarto. Muitas vezes, divide o teto com o anfitrião. 

O compartilhamento costuma ser mais barato do que os hotéis, em que há serviço de recepção, arrumadeiras e café da manhã. A queixa dos hoteleiros é que haveria uma oferta velada de serviços nos aluguéis de temporada, o que entendem não estar de acordo com a Lei do Inquilinato e a Lei Geral do Turismo.

—  Algumas casas oferecem wi-fi, TV a cabo e refeições. Viram hotéis clandestinos —  diz Boscardin.

Setor teme "uberização" do mercado 

Embora alguns hoteleiros rejeitem a comparação, o caso se assemelha à chegada do Uber à Capital, no final do ano passado. O aplicativo de caronas pagas causou furor nos taxistas, inclusive gerando casos de violência. Em comum, há queixas de um setor estabelecido contra um novo modelo de negócio que não estaria adequadamente previsto na legislação. 

—  Os hotéis começaram a perceber o estrago com os sites de aluguéis de temporada na Copa de 2014, e a situação está piorando. É preciso que haja algum controle do poder público, sob pena de "uberização" do mercado —  afirma Carlos Henrique Schmitt, presidente do Sindicato dos Hotéis de Porto Alegre (Shpoa).

A pressão é que prefeituras e câmaras dos vereadores discutam leis que taxem os aluguéis de temporada pela internet e obriguem as residências a passarem pelo laudo do corpo de bombeiros e da vigilância sanitária _ o lobby deve crescer após o período eleitoral. 

O Airbnb entende que opera dentro da lei e afirma que a concorrência faz bem ao mercado. O número de anúncios no Brasil chega a 100 mil, 40% no Rio de Janeiro. Em posicionamento enviado à reportagem, afirma que "as relações que se estabelecem a partir da nossa plataforma são tipicamente de locação de temporada, o que já está previsto na Lei do Inquilinato" e que, "às vezes, esse debate busca criar barreiras e burocracias para preservar um modelo tradicional de negócios".

Preço baixo é vantagem, mas conforto é menor

Indiferentes à troca de farpas, turistas celebram a maior oferta de opções de hospedagem. O analista de telecom Maicon Jacondino decidiu experimentar o Airbnb em abril deste ano, quando planejava uma viagem a Gramado com a esposa. Reservou uma cabana, instalada no terreno dos moradores que fizeram o anúncio, com cozinha e banheiro privativos. A diária de R$ 100 era 50% mais baixa do que o hotel mais barato disponível.

— O lado ruim é que não tem café da manhã ou serviço de quarto. Mas podemos preparar as próprias refeições e conviver com os proprietários, muito amigáveis — compara Maicon, que até para um churrasco foi convidado a participar no domingo de despedida.

As próximas férias do casal serão em Buenos Aires — e persiste a dúvida se a escolha da hospedagem será pelo conforto de um hotel ou a economia do aluguel.

Nem tudo é questão financeira quando se escolhe a hospedagem. Aluguel de temporada pelo Airbnb ou Booking tem a vantagem de mostrar a opinião de outros usuários sobre o local e de compartilhar a cultura local ao dividir a mesma casa com os moradores. Já o hotel tem vantagem da arrumação do quarto, limpeza do banheiro e café da manhã; ou seja, paga-se mais pelo conforto e a comodidade. 

—  Costuma ser vantajoso escolher o compartilhamento em destinos onde o preço dos hotéis geralmente é elevado, como o Rio de Janeiro, em particular na alta temporada, quando as opções mais baratas na hotelaria se esgotam rapidamente —  diz o consultor financeiro Adriano Severo.

 

Fonte: Zero Hora


Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região
Rua Dr. Barros Cassal, 180 conj. 801 | Floresta
Porto Alegre/RS | CEP 90035-030
Fone: +55 (51) 3225-3300