06/09/16

Entrevista com o Prof. Carlos Melo

Na última semana o Sindha recebeu o professor Carlos Melo para um encontro com sócios do Sindicato, empresários do turismo, autoridades e formadores de opinião. A palestra, Brasil hoje e o que esperar para os próximos 24 meses atualizou os presentes com a conjuntura econômica e politica do país. Para quem perdeu esta oportunidade, o Sindha traz uma entrevista com os principais tópicos do evento.

Com a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o país passa a ser governado por Michel Temer do PMDB. O que o senhor projeta para o cenário político?

Carlos Melo - O governo do presidente Temer, agora como efetivo, vai ser muito cobrado, a pressão vai ser muito grande. Até aqui o presidente ganhou tempo, de certa forma até procrastinou por conta de uma certa fragilidade autodeclarada por ser interino. Agora não vai mais caber procrastinação, os setores econômicos vão querer ver medidas econômicas efetivas sendo tomadas, reformas sendo votadas no Congresso e estreitamento de interesses locais, setoriais, que hoje tem de alguma forma travado o processo de ajuste fiscal.

O senhor acredita que as reformas podem ser votadas a partir de quando?

Eu acho que, infelizmente, nós teremos as eleições municipais ainda a travar esse processo, e depois das eleições municipais, que é no final de outubro, nós teremos um período muito pequeno que é novembro. Veja, novembro e dezembro nós já vislumbramos as festas, janeiro recesso, fevereiro eleição da mesa da Câmara e do Senado, definição das comissões. Se o país não for muito diligente em novembro, nós corremos o risco de só retomar esse processo em março, abril. O debate é sucessório, da eleição de 2018, pode ter tomado conta do país e não ter feito reforma alguma, isso é um grande risco.

O senhor acha que a sociedade está consciente da necessidade da aprovação das reformas da previdência e trabalhista?

Eu acho que não. Acho que é para isso que serve a liderança política, para alertar, conscientizar, persuadir, e fazer um processo de comunicação até para ter a sociedade ao seu lado. É claro que essa agenda toda é impopular e desagrada muita gente, mas ela é inevitável. Então é necessário que a liderança política consiga se comunicar e diga o quanto é inevitável nesse momento que todos percam alguma coisa para que lá na frente a gente possa voltar a ganhar também coletivamente. Acho que esse é um grande problema, a falta de liderança política que nós temos hoje.

Com relação à participação dos empresários, o senhor acha que eles participam pouco da política?

Acredito que participam muito pouco. Houve um período no Brasil que, ainda bem, tudo deu certo, o bom momento foi péssimo conselheiro. No tempo que a economia internacional nos ajudava e nós íamos de vento em popa, havia uma série de medidas a serem tomadas que nós deixamos para lá. E os empresários, como o restante da sociedade, comemoraram muito, ficaram muito contentes no curto prazo sem olhar para o longo prazo. Se a crise tem alguma vantagem, é rasgar essa seda e deixar bem claro que você precisa olhar sempre uma perspectiva de futuro e nunca olhar só para o presente, porque quando o futuro vem e nos pega desprevenidos, o drama é certo e é terrível, que é o momento que nós vivemos.

E em 2018, como vamos chegar?

2018 continua sendo um problema, porque o menu de ofertas de candidatos ainda é muito ruim. Se você olhar, todos os candidatos têm problemas muito grandes, muito sérios. Há uma incógnita se o presidente Lula será mesmo candidato. Ao meu ver, acho difícil que seja. E se não for, quem herdaria os seus votos? No campo do governo, também há uma incógnita. Esse campo sai fragmentado ou consegue se unir em torno de uma única candidatura? PSDB e PMDB terão um acerto ou não? E no campo do PSDB, quem será o candidato? Porque há pelo menos três propostas ali que são inconciliáveis e não há nenhum sinal que seja possível chegar a um acordo. Então é um cenário ainda muito obscuro, muito confuso, que nesse momento aumenta a incerteza e, portanto, a tensão em relação à solução dos problemas do país, mesmo que seja a partir de 2019.

Vai depender do sucesso da economia?

Sempre depende do sucesso da economia. No entanto, o sucesso da economia não cai do céu, é necessário construir esse sucesso. É necessário ter base política, ter clareza, para um bom diagnóstico.

A palestra, Brasil hoje e o que esperar para os próximos 24 meses atualizou os presentes com a conjuntura econômica e politica do país. 


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