Sazonalidade complica mercado hoteleiro
Ocupação média é de 60% nos últimos 12 meses
O mercado hoteleiro da Capital mantém postura apreensiva no que se refere à ocupação da maioria dos estabelecimentos, apesar de algumas redes apontarem, em estudo recente - desenvolvido em todo o País -, que houve crescimento da demanda por quartos em 2011. Dados regionais, obtidos em levantamento mensal do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre (SHPOA), e do Sindpoa revelam que a realidade do mercado de hospedagem da Capital gaúcha ainda deixa a desejar, principalmente devido à sazonalidade e inconstância da procura, que tende a cair aos finais de semana e entre os meses de dezembro a março. Se para determinado nicho de estabelecimento a ocupação chegou ao patamar de 70,89% em 2011, para os demais (que representam a maioria), esta taxa ficou na média de 61%, explica o presidente do SHPOA, Daniel Antoniolli. Segundo o levantamento Programa da Realidade Hoteleira (PRH) - desenvolvido mensalmente pelo Sindicato há dez anos -, a ocupação média do setor nos últimos 12 meses foi de 60,86%, ficando abaixo do ano anterior em 0,46 pontos. “A amostra dos hotéis participantes do PRH é bem equilibrada e extremamente representativa. Além disso, ela é divida por faixas abrangendo todo espectro de preços praticado nas diversas categorias”, explica o dirigente. Ele pontua que a pesquisa engloba todos os tipos de hotéis, sendo eles de redes ou não. A constante preocupação da hotelaria tradicional da cidade em buscar cada vez mais atrair novos eventos está atrelada não somente à realidade do dia a dia dos estabelecimentos, mas também aos números que se revelam pouco animadores: o estudo feito pelo PRH neste mês mostra que a ocupação de quartos em abril deste ano foi de 56,24%. Comparando com abril de 2011 (61,21%), houve um decréscimo de 8,12% em termos relativos, com diminuição de 4,97% no índice. “Alguns hotéis menores podem ter melhores ocupações, porém aqueles estabelecimentos que possuem mais de 100 apartamentos continuam com a procura aquém das suas capacidades instaladas”, afirma o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Sul (ABIH-RS), Abdon Barretto Filho, professor de Turismo e especialista em estudos nesta área. Conforme ele, a grande luta do setor é buscar alternativas, não só pela captação de eventos, mas revelando as atrações da Capital. “Não podemos continuar desta forma, tendo grandes períodos de ociosidade dos hotéis”, pontua. “Dificilmente a hotelaria ultrapassa os índices de 70% de ocupação, se alcançar 60% já está bom”, lamenta Antoniolli. Nos feriadões os estabelecimentos ficam quase vazios, uma vez que a característica predominante na Capital é a do segmento de turismo de negócios, explica o dirigente. Segundo ele, a demanda por quartos nos hotéis de Porto Alegre cresce de segunda até quinta-feira, quando chega em seu ápice, e começa a declinar na sexta-feira, com baixas mais severas aos sábados e domingos. Conforme o diretor da ABIH-RS, o entrave do setor hoteleiro na Capital é não sediar um número expressivo de eventos nos finais de semana, mas também nos feriados e nos meses de dezembro a março. “A sazonalidade e inconstância da demanda é uma característica do produto hoteleiro, e infelizmente Porto Alegre tem ocupações muito baixas nestes períodos. Por isso as entidades ligadas ao setor têm movido esforços conjuntos para a captação de eventos e programas turísticos”, reforça. Apesar de no ano passado ter ocorrido um número recorde de eventos internacionais e nacionais em Porto Alegre, quando a ocupação no segundo semestre teve uma boa alta, este ano houve uma queda na demanda por quartos, diz a presidente do Porto Alegre & Região Metropolitana Convention & Visitors Bureau (CVB), Berenice Lewin. “Também nos esforçamos em captar feiras, congressos e outros encontros de negócios para toda a Região Metropolitana”, afirma Berenice. “Mas isso não significa que Porto Alegre esteja perdendo eventos para as cidades vizinhas.” O presidente da ABIH-RS, José Reinaldo Ritter, destaca que os meios de hospedagem sofrem os impactos dos chamados dias azuis, períodos fracos, onde a hotelaria registra ocupações “baixíssimas, fora, inclusive, de qualquer nível razoável de manutenção”. “Mas isso oscila muito, também existem casos onde ocorrem dois eventos em um mesmo mês, levando a ocupação a um patamar de 80%.” Na opinião do dirigente, mais do que a criação de novos hotéis, é preciso buscar sempre mais eventos, para ocupar as redes hoteleiras que já estão em funcionamento e aumentar os índices de procura por quartos. “Cada vez é mais necessário este tipo de ação, tendo em vista que já é certo que a partir de 2013 irão entrar no mercado mais de 1000 novos apartamentos. “O Brasil se transformou em um dos principais lugares para investimento hoteleiro, e não tinha como Porto Alegre ficar de fora disso”, comenta a presidente do Convention. “O resultado deverá ser a queda da diária média dos estabelecimentos, e as áreas comerciais dos empreendimentos terão que intensificar suas investidas”, completa. Ainda de acordo com o estudo do SHPOA, a diária média do período de maio de 2011 a abril de 2012 fechou em R$ 170,76 contra R$ 154,67 cobrados entre maio de 2010 a abril do ano passado, com aumento de 10,4% contra uma taxa de inflação de 5,24% medida pelo IPCA/IBGE. (Texto – Adriana Lampert – Jornal do Comércio)